Segundo o físico do MIT César Hidalgo contrariando o mito difundido aqui na terra de macunaíma "Para que o conhecimento circule, não
basta recorrer à internet. É preciso que um país esteja aberto a receber gente e empresas de fora e a inserir seus
produtos numa cadeia global, em uma economia fechada como a nossa, passamos
a compreender o nosso gap tecnológico.
Segundo
o recém-lançado Why Information Grows (Por que a Informação Aumenta), não há
crescimento sustentável sem educação e conhecimento.
É
preciso compreender que o conceito de informação não é o da linguagem cotidiana - aquilo que
encontramos em uma página de jornal ou em um tuíte. No mundo das coisas criadas
pelo homem, tanto um cesto de vime quanto um carro movido a energia elétrica são portadores de informação. Eles são
constituídos de tais e tais materiais, processados desta ou daquela maneira,
construídos de certa forma. O que varia é a complexidade da informação. No
carro elétrico, ela é muito maior que no cesto de vime. Fica a pergunta por que
alguns grupos humanos só são capazes de produzir cestos, enquanto outros são
capazes de construir carros?
A
forma de raciocínio determina se um povo vai prosperar ou não, o segredo é como
uma sociedade acumula e processa
informação e como traduz isso em riqueza material. As economias mais
pujantes são justamente as mais eficientes nesse campo. Dito de outra maneira,
o crescimento de uma economia deriva do aumento da informação embutida nela.
O
erro de muitos países periféricos é associar
investimentos em educação a desenvolvimento isto é uma armadilha, porque a
complexidade econômica requer mais que isso. Para um país se desenvolver, não basta ter gente educada. É preciso
ter gente educada e capaz de trabalhar
de maneira coordenada com outras pessoas e equipes ( invejinhas e ciúmes sabotam
qualquer processo) . Voltando ao exemplo anterior, um cesto de vime pode
ser feito por uma única pessoa. É um
saber que se passa de pai para filho. A cadeia
de conhecimento envolvida na criação de um carro elétrico é imensamente maior.
Vejam por exemplo a diferença entre Gana e Tailândia. Entre 1960 e 2010, Gana investiu mais em educação e alcançou um
nível de escolaridade melhor que o da Tailândia. Mas a estrutura produtiva de Gana, ou seja, o que essas pessoas eram
capazes de fazer quando se reuniam em equipe, não era de alta complexidade. Eram produtos muito simples, às vezes
rudimentares. O esforço educacional em Gana não se traduziu em aumento de sua complexidade econômica. A
Tailândia, apesar de ter uma média educacional mais baixa,
cresceu muito mais rápido, porque outros elementos
culturais favoreciam o trabalho em equipe, a combinação de conhecimento em cadeias
produtivas e mercadorias finais muito mais complexas.
Este
mito que um país se desenvolve sem alguns pressupostos materiais, como
um bom sistema de transporte e
comunicações, e sem níveis mínimos de segurança pública, segurança jurídica e
respeito aos contratos não existe. Enfim, fatores que afetam a capacidade de criação e execução de pessoas trabalhando em
grupo. O Brasil continua escolhendo
caminhos que o coloca em uma rua sem saída
ainda
não entendeu que o melhor gestor da inclusão social não é o Estado. Os países onde a desigualdade é mais baixa
são justamente aqueles em que o grau de
complexidade econômica é mais alto. As economias de alta complexidade, ou seja,
aquelas em que os fatores econômicos, educacionais e tecnológicos se entrelaçam
em relações de interdependência e de subordinação, põem em funcionamento um
círculo virtuoso altamente inclusivo.
Matérias
primas não contém à informação qualificada em cada produto, não há material à tecnologia e aos processos de
gestão necessários para que ele seja criado. A complexidade dos produtos de uma região revela muito mais sobre ela
do que o produto interno bruto (PIB), pois reflete os investimentos em educação
e o tempo de escolaridade da população.
Outro mito dos telejornais no Brasil
é o PIB, este não mede essas
complexidades O PIB é uma medida agregada, que
consiste na soma de produtos e serviços em uma economia. Ele não considera os elementos que fazem um país funcionar. O PIB
pode ser exatamente o mesmo para uma
economia que produza carros e aviões e outra que exporte bananas e carvão, ainda que elas tenham um DNA
completamente diferente. O PIB não
discerne a capacidade produtiva de uma região, e isso faz dele um indicador
incompleto.
As
nações de economia mais complexa são mais resistentes às crises periódicas do
capitalismo Pelo
indicador de complexidade, podemos saber se
um país tem estrutura produtiva capaz de absorver os investimentos e transformá-los
em riqueza. Muitos países apresentam renda per capita alta e crescimento
razoável, mesmo sem ter indústrias ou capacidade tecnológica. É o caso da
Grécia antes da crise. No outro extremo, situam-se a China e a Índia, países de
baixa renda per capita mas de economia complexa e amplos recursos tecnológicos
e de conhecimento especializado. Os investimentos na China e na Índia se
traduzem rapidamente em crescimento econômico que evolui rumo a uma situação de
equilíbrio estável entre produção e renda. A
Grécia, por seu turno, derreteu quando o dinheiro deixou de entrar. Não há
muita dúvida sobre qual modelo tem mais capacidade de sobreviver aos grandes
solavancos financeiros.
A
perda de espaço da indústria para o setor de serviços é a característica
definidora da economia brasileira atual O processo
constante de desindustrialização do
Brasil, combinado com o aumento das barreiras comerciais, é um retrocesso.
Vejam como o Brasil retrocedeu no começo deste século, o país exportava muito mais maquinário, produtos químicos e ônibus
do que hoje. O peso desse tipo de exportação diminuiu em relação ao das matérias-primas. Exportar
commodities é, em si, uma condenação à
ruína. Mas priorizar isso em
detrimento de desenvolver uma indústria
eficiente e mundialmente competitiva é um erro grave. O Brasil, tem a
obrigação de reavaliar a prática de dar benefícios ou impostos dos brasileiros
eternos a indústrias incapazes de
competir com os produtos importados. A retirada dos benefícios em um ritmo
suficientemente lento para evitar quebradeira criaria um efeito revolucionário
no país.
O
país se atrasa quando faz abordagem ideológica das questões econômicas, as argumentações ideológicas têm como
premissa o fato de que a verdade
absoluta existe e está registrada no livro de algum economista ou filósofo
morto. Isso freia a liberdade de
pensamento e a execução de políticas pragmáticas em qualquer área do
conhecimento, em especial na economia. A argumentação científica, por outro
lado, pressupõe que o ponto de partida para tudo é a ignorância, e não o dogma.
A
complexidade que se vê no Vale do Silício, nos Estados Unidos, é a prova de que
esta teoria está certa o que se observa no Vale do Silício é
uma interação altamente complexa
entre grupos, e não entre expressões individuais de conhecimento. A educação
de qualidade, o estímulo e as
oportunidades se combinaram ali para o surgimento de numerosos grupos de excelência.
O Vale se tornou um sistema tão complexo de produção de conhecimento que seu
funcionamento independe de um
indivíduo qualquer. A melhor cabeça poderia desaparecer agora de lá e isso não
faria a menor diferença. O sistema continuaria funcionando e aprimorando-se. A
questão mais interessante que o exemplo nos propõe é por que, havendo tanto dinheiro e a mesma educação
de qualidade em outras regiões dos Estados Unidos, não surgiram outros polos
tão inovadores. Por que o corredor tecnológico de Boston, com tantas
universidades de primeiro nível, foi superado pelo Vale do Silício? Por que o
Brasil é menos desenvolvido que os Estados Unidos? A resposta é a mesma. Tudo depende da forma como as pessoas e as
empresas se integram em redes complexas.
Será
que existe atalhos para uma economia saltar da condição de baixa para alta
complexidade? Não infelizmente, esse é um processo que
requer tempo e esforço. Nos países mal servidos de tecnologia como o Brasil, o
dinheiro público e as oportunidades gravitam
em torno de indústrias velhas. A abertura
comercial e a liberdade para o fluxo de pessoas e idéias são a receita para
quebrar o marasmo e existe encontra resistência no Brasil. Para que o
conhecimento circule, não basta recorrer
à internet, é preciso que um país esteja aberto a trabalhar com grupos de
outras nações, esteja apto a receber empresas de outros lugares e, da mesma
forma, consiga inserir seus produtos numa cadeia global. É vital entender a
economia como um armazenador e
processador de dados. A economia só cresce se a capacidade de processamento
se amplia, agregando pessoas
qualificadas, empreendedoras e que confiam umas nas outras, algo cada vez mais
difícil e uma nação cínica onde o oportunismo e os apaniguados estão sempre
apostos.
Por
que a confiança é importante?A confiança diminui o custo de transação. Com ela, é mais fácil interagir, os vínculos são mais
sólidos e mais duradouros. Só assim é possível participar de redes amplas, acumular conhecimento e, eventualmente,
atingir graus mais altos de complexidade. Sociedades com baixo grau de
confiança como o Brasil organizam-se em redes
sociais menores e mais frágeis, em que menos informação circula e a chance de
fazer coisas complexas é menor. A corrupção, sobretudo combinada com a
impunidade, é o indicador mais forte da falta de confiança em uma sociedade. É
o veneno que mata o desenvolvimento e a inovação no país.
Nossas crenças e atitudes é que causam atraso.
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