Para posar paras fotos, o pacóvio pegou o livro, não observou que estava de cabeça para baixo é um pouco o reflexo do universitário no Brasil
Nunca
tantos brasileiros chegaram às salas de aula das universidades ( seriam depósitos de estudantes?), fizeram
pós-graduação ou MBAs. Mas, ao mesmo tempo, não só as empresas reclamam da
oferta e qualidade da mão-de-obra no país como os índices de produtividade do
trabalhador custam a aumentar.
Na
última década, o número de matrículas no ensino superior no Brasil dobrou,
embora ainda fique bem aquém dos níveis dos países desenvolvidos e alguns
emergentes. Só entre 2011 e 2014, por exemplo, 867 mil brasileiros receberam um
diploma ou um certificado que comunica a sociedade que o cidadão portador deste documento domina alguma habilidade técnica, segundo a mais recente Pesquisa Nacional de Domicílio (Pnad) do IBGE.
"Mas
mesmo com essa expansão, na indústria de transformação, por exemplo, tivemos um
aumento de produtividade de apenas 1,1% entre 2001 e 2014, enquanto o salário
médio dos trabalhadores subiu 169% (em dólares)", diz Rafael Lucchesi,
diretor de educação e tecnologia na Confederação Nacional da Indústria (CNI).
A
decepção do mercado com o que já está sendo chamado de "geração do
diploma" ou " descerebrados acadêmicos" é confirmada por especialistas, organizações empresariais e
consultores de recursos humanos.
"Os
empresários não querem canudo. Querem capacidade de dar respostas e de
apreender coisas novas. E quando testam isso nos candidatos, rejeitam a
maioria", diz o sociólogo e especialista em relações do trabalho da
Faculdade de Economia e Administração da USP, José Pastore.
Entre
empresários, já são lugar-comum relatos de administradores recém-formados que
não sabem escrever um relatório ou fazer um orçamento, arquitetos que não
conseguem resolver equações simples ou estagiários que ignoram as regras
básicas da linguagem ou têm dificuldades de se adaptar às regras de ambientes
corporativos.
"Cadastramos
e avaliamos cerca de 770 mil jovens e ainda assim não conseguimos encontrar
candidatos suficientes com perfis adequados para preencher todas as nossas 5
mil vagas", diz Maíra Habimorad, vice-presidente do DMRH, grupo do qual
faz parte a Companhia de Talentos, uma empresa de recrutamento.
"Surpreendentemente, terminanos com vagas em aberto."
Outro
exemplo de descompasso entre as necessidades do mercado e os predicados de quem
consegue um diploma no Brasil é um estudo feito pelo grupo de Recursos Humanos
Manpower. De 38 países pesquisados, o Brasil é o segundo mercado em que as
empresas têm mais dificuldade para encontrar talentos, atrás apenas do Japão.
vidade da industria aumentou apenas 1,1% na última década,
segundo a CNI
Mas
segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
(Ipea) divulgado nesta semana, os brasileiros com mais de 11 anos de estudo
formariam 50% desse contingente de desempregados.
"Mesmo
com essa expansão do ensino e maior acesso ao curso superior, os trabalhadores
brasileiros não estão conseguindo oferecer o conhecimento específico que as
boas posições requerem", explica Márcia Almstrom, do grupo Manpower.
Vamos as causas
Especialistas
consultados apontam três causas principais para a decepção com
a "geração do diploma".
A
principal delas estaria relacionada a qualidade do ensino e habilidades dos
alunos que se formam em algumas faculdades e universidades do país.
Os
números de novos estabelecimentos do tipo criadas nos últimos anos mostra como
os empresários consideram esse setor promissor. Em 2000, o Brasil tinha pouco
mais de mil instituições de ensino superior. Hoje são 2.416, sendo 2.112
particulares.
"Ocorre
que a explosão de escolas superiores não foi acompanhada pela melhoria da
qualidade. A grande maioria das novas faculdades é ruim", diz Pastore.
Tristan
McCowan, professor de educação e desenvolvimento da Universidade de Londres,
concorda. Há mais de uma década, McCowan estuda o sistema educacional
brasileiro e, para ele, alguns desses cursos universitários talvez nem pudessem
ser classificados como tal.
"As universidades brasileiras não passam de uma extensão do ensino fundamental", diz McCowan. "E o problema
é que trazem muito pouco para a sociedade: não aumentam a capacidade de
inovação da economia, não impulsionam sua produtividade e acabam ajudando a
perpetuar uma situação de desigualdade, já que continua a ser vedado à
população de baixa renda o acesso a cursos de maior prestígio e qualidade."
Para
se ter a medida do desafio que o Brasil têm pela frente para expandir a
qualidade de seu ensino superior, basta lembrar que o índice de anafalbetismo
funcional entre universitários brasileiros chega a 38%, segundo o Instituto
Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope.
Especialistas questionam qualidade de novas faculdades no Brasil
Na
prática, isso significa que quatro em cada dez universitários no país até sabem
ler textos simples, mas são incapazes de interpretar e associar informações.
Também não conseguem analisar tabelas, mapas e gráficos ou mesmo fazer contas
um pouco mais complexas.
De
2001 a 2014, a porcentagem de universitários plenamente alfabetizados caiu 14
pontos - de 76%, em 2001, para 62%, em 2014. "E os resultados das próximas
pesquisas devem confirmar essa tendência de queda", prevê Ana Lúcia Lima,
diretora-executiva do IPM.
Segundo
Lima, tal fenômeno em parte reflete o fato da expansão do ensino superior no
Brasil ser um processo relativamente recente e estar levando para bancos
universitários jovens que não só tiveram um ensino básico de má qualidade como
também viveram em um ambiente familiar que contribuiu pouco para sua
aprendizagem.
"Além
disso, muitas instituições de ensino superior privadas acabaram adotando
exigências mais baixas para o ingresso e a aprovação em seus cursos", diz
ela. "E como consequência, acabamos criando uma escolaridade no papel que
não corresponde ao nível real de escolaridade dos brasileiros."
Postura e experiência
A
segunda razão apontada para a decepção com a geração de diplomados estaria
ligada a “problemas de postura” e falta de experiência de parte dos
profissionais no mercado.
"Muitos
jovens têm vivência somente acadêmica, mas não conseguem se posicionar em uma empresa,
respeitar diferenças, lidar com hierarquia ou com uma figura de
autoridade", diz Marcus Soares, professor do Insper especialista em gestão
de pessoas.
"Entre
os que se formam em universidades mais renomadas também há certa ansiedade para
conseguir um posto que faça jus a seu diploma. Às vezes o estagiário entra na
empresa já querendo ser diretor."que é típico de povos que se preocupam apenas com status funcional.
As
empresas, assim, estão tendo de se adaptar ao desafio de lidar com as
expectativas e o perfil dos novos profissionais do mercado – e em um contexto de
baixo desemprego, reter bons quadros pode ser complicado.
E o grande mal do país a'Tradição bacharelesca'
Por
fim, a terceira razão apresentada por especialistas para explicar a decepção
com a "geração do diploma" estaria ligada a um desalinhamento entre o
foco dos cursos mais procurados e as necessidades do mercado.
É bastante disseminada no Brasil a ideia de que cargos de gestão pagam
bem e cargos técnicos pagam mal. Mas isso está mudando – até porque a demanda
por profissionais da área técnica tem impulsionado os seus salários.Gabriel
Rico
De um
lado, há quem critique o fato de que a maioria dos estudantes brasileiros tende
a seguir carreiras das ciências humanas ou ciências sociais - como
administração, direito ou pedagogia - enquanto a proporção dos que estudam
ciências exatas é pequena se comparada a países asiáticos ou alguns europeus.
"O
Brasil precisa de mais engenheiros, matemáticos, químicos ou especialistas em
bioquímica, por exemplo, e os esforços para ampliar o número de especialistas
nessas áreas ainda são insuficientes", diz o diretor-executivo da Câmara
Americana de Comércio (Amcham), Gabriel Rico.
Segundo
Rico, as consequências dessas deficiências são claras: "Em 2014 o país
conseguiu atrair importantes centros de desenvolvimento e pesquisas de empresas
como a GE a IBM e a Boeing", ele exemplifica. "Mas se não há
profissionais para impulsionar esses projetos a tendência é que eles percam
relevância dentro das empresas."
Do
outro lado, também há críticas ao que alguns vêem como um excesso de
valorização do ensino superior em detrimento das carreiras de nível técnico.
"É
bastante disseminada no Brasil a ideia de que cargos de gestão pagam bem e
cargos técnicos pagam mal. Mas isso está mudando – até porque a demanda por
profissionais da área técnica tem impulsionado os seus salários", diz o
consultor.
Rafael
Lucchesi concorda. "Temos uma tradição cultural baicharelesca, que está
sendo minando o país”, diz o diretor da CNI – que também é o diretor-geral
do Senai (Serviço Nacional da Indústria, que oferece cursos técnicos).
O triste sistema educacional brasileiro I
Consequências trágicas para o país.
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