quarta-feira, 27 de abril de 2016

. Alguns ferimentos espirituais provocados pela inflação ( A lógica do Demônio)

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Inflação de toda a década de 80 :36.850.000 % mais 6 moedas diferentes no Brasil.Esqueceram?

Inflação é o que ocorre quando as pessoas aumentam a oferta monetária por meio de fraude, imposição ou quebra de contrato.  Invariavelmente, ela gera três conseqüências características: (1) ela beneficia os perpetradores à custa de todos os outros usuários do dinheiro; (2) ela permite a acumulação de dívidas além do nível que as dívidas poderiam atingir no livre mercado; e (3) ela reduz o poder de compra do dinheiro para um nível menor do que aquele que prevaleceria no livre mercado.

Embora essas três consequências sejam ruins o bastante, as coisas ficam muito piores quando a inflação é estimulada e promovida pelo estado (inflação por decreto).  A inflação criada pelo governo é contínua, e, como resultado, podemos observar a formação de instituições e hábitos especificamente criados pela inflação.  Assim, a inflação monetária criada monopolisticamente pelo governo gera uma mácula cultural e espiritual na sociedade. 
A inflação beneficia o governo que a controla, não apenas em detrimento da população como um todo, mas também em detrimento de todos os governos estaduais e municipais.
A inflação estimula o crescimento dos governos centrais.  Ela permite que esses governos cresçam para muito além do que poderiam crescer em uma sociedade livre.  E ela permite que eles monopolizem determinadas funções em uma escala que não ocorreria em um ambiente em que o dinheiro fosse produzido pelo livre mercado.  Isso ocorre à custa de todas as formas de governo intermediário, e, é claro, à custa da sociedade civil como um todo.  A centralização do poder estimulada pela inflação transforma o cidadão médio cada vez mais em um átomo socialmente isolado.  Todas as suas relações sociais tornam-se controladas pelo estado central, o qual também passa a fornecer a maioria dos serviços que antes eram ofertados por outras entidades sociais, como a família, as igrejas e o governo local.  Ao mesmo tempo, a direção central do aparato estatal torna-se cada vez mais distante da vida diária de seus protegidos.

Alguns ferimentos espirituais provocados pela inflação monetária

A inflação monetária reduz constantemente o poder de compra do dinheiro.  Em algum grau, é possível para as pessoas protegerem sua poupança contra esse fenômeno, mas isso requer um completo conhecimento de estratégias financeiras, tempo disponível para supervisionar constantemente seus investimentos e uma boa dose de sorte.  As pessoas que não possuem um desses ingredientes irão provavelmente perder uma parte substancial de seus ativos.  A poupança de toda uma vida normalmente desaparece por completo durante os primeiros anos da aposentadoria.  A consequência é o desespero e a erradicação dos padrões morais e sociais.  Porém, seria errado inferir que a inflação produz esse efeito principalmente nos mais idosos
Esses efeitos são "especialmente fortes entre os jovens.  Eles aprendem a viver pensando apenas no presente e desdenham daqueles que tentam ensiná-los 'coisas antiquadas como moralidade e parcimônia.'  A inflação, desta forma, estimula uma mentalidade de gratificação imediata que está em completo desacordo com a disciplina e a eterna perspectiva requeridas para se exercer os princípios da intendência bíblica -- como investimentos de longo prazo para o benefício de gerações futuras
Mesmo aqueles cidadãos abençoados com o conhecimento, o tempo e a sorte para proteger o capital de sua poupança não são capazes de se esquivar dos impactos perniciosos da inflação, pois eles têm de adotar hábitos que estão em desacordo com a saúde moral e espiritual.  A inflação os obriga a gastar muito mais tempo pensando no seu dinheiro do que seria necessário na ausência dela.  Como já dito, a maneira antiga de os cidadãos comuns pouparam era acumulando dinheiro dentro de casa.  Sob um ambiente de inflação monetária como o atual, essa estratégia é suicida.  Eles precisam investir em ativos cujos valores crescem com a inflação; e a maneira mais prática de se fazer isso é comprando ações e títulos.  Porém, isso demanda várias horas dedicadas ao estudo, à comparação e à seleção dos papeis adequados.  E isso os obriga a estarem sempre vigilantes e preocupados com seu dinheiro, para o resto de suas vidas.  Eles precisam estar sempre seguindo o noticiário financeiro e monitorando os preços das ações no mercado financeiro.
Similarmente, as pessoas tenderão a prolongar a fase de suas vidas na qual elas se esforçam para ganhar dinheiro.  E, ao escolher suas profissões, elas darão uma ênfase relativamente maior nos retornos monetários do que em qualquer outro critério.  Por exemplo, alguns daqueles que teriam maior propensão à jardinagem irão abandonar essa vocação e procurar um emprego industrial, pois este oferece maiores retornos financeiros no longo prazo.  E mais pessoas irão aceitar empregos distantes de suas casas apenas pelo fato de estes permitirem a elas ganharem um dinheiro extra -- algo que não ocorreria com tanta frequência em um sistema monetário natural.
A dimensão espiritual desses hábitos induzidos pela inflação parece ser óbvia.  Questões monetárias e financeiras passam a ter um papel exagerado na vida de um homem.  A inflação torna a sociedade materialista.  As pessoas cada vez mais se esforçam para obter dinheiro à custa da felicidade pessoal.  A mobilidade geográfica induzida pela inflação enfraquece artificialmente os laços familiares.  Muitos daqueles que tendem a ser gananciosos, invejosos e mesquinhos tornam-se vítimas do pecado.  Mesmo aqueles que não possuem tal propensão serão expostos a tentações que não sentiriam caso contrário.  E como os caprichos do mercado financeiro também fornecem uma desculpa perfeita para o uso excessivamente sovina do dinheiro, doações para instituições de caridade tendem a declinar.
E há o fato de que a inflação perene tende a deteriorar a qualidade dos produtos.  Todo vendedor sabe que é difícil vender o mesmo produto físico a um preço maior do que aquele vigente nos anos anteriores.  Porém, aumentos nos preços são inevitáveis quando a oferta monetária ( crédito) está em crescimento contínuo.  Sendo assim, o que os vendedores fazem?  Em muitos casos, a salvação vem por meio da inovação tecnológica, a qual permite um modo de produção mais barato do produto, desta forma neutralizando ou até mesmo compensando em demasia a influência da inflação.  Isso ocorre, por exemplo, na indústria de computadores e de equipamentos construídos com uma grande quantidade de insumos de tecnologia da informação.
Porém, em outras indústrias, o progresso tecnológico possui um papel muito menor.  Aqui, os vendedores lidam com o problema acima mencionado.  Consequentemente, eles fabricam um produto de qualidade inferior e o vendem com o mesmo nome, junto com os eufemismos que se tornaram costumeiros no marketing comercial.  Por exemplo, eles podem ofertar aos seus consumidores café "light" e vegetais "não condimentados" -- o que pode ser traduzido como café ralo e vegetais que já perderam todos os resquícios de sabor.  Podem também oferecer os mesmos produtos em menores quantidade e tamanho.  
Deteriorações similares podem ser observadas na indústria de construção civil.  Países flagelados pela inflação parecem ter sempre uma maior proporção de casas e ruas em constante necessidade de reparos.
Em ambientes assim, as pessoas desenvolvem uma atitude mais desleixada em relação às palavras que utilizam.  Se tudo realmente for aquilo de que passou a ser chamado, então é difícil explicar a diferença entre verdade e mentira.  A inflação incita as pessoas a mentirem sobre seus produtos, e a inflação perene estimula o hábito de mentir rotineiramente.A inflação monetária parece difundir esse hábito como um câncer para todo o resto da economia.
Na maioria dos países, o crescimento do estado assistencialista tem sido financiado por meio do acúmulo da dívida pública em uma escala que seria impensável sem o advento do dinheiro de papel.  Uma rápida olhada no histórico mostra que o crescimento exponencial do estado assistencialista, que na Europa começou no início da década de 1970, progrediu pari passu com a explosão da dívida pública.  É amplamente sabido que tal acontecimento tem sido um grande fator no declínio da família.  Porém, é normalmente negligenciado o fato de que a principal causa desse declínio é a inflação monetária.  De maneira lenta, porém resoluta, a inflação perene destroi a família, sufocando a chama da moral cristã.
A família cristã é a mais importante "produtora" de um determinado tipo de moral.  A vida familiar só é possível se todos os membros forem seguidores de determinadas normas, tais como a legitimidade da autoridade, a união heterossexual entre homem e mulher, e a proibição do incesto. 
E as famílias cristãs se baseiam em normas adicionais, como o amor entre o homem e a mulher e o amor do casal pelos seus filhos, o respeito dos filhos pelos pais, a realidade do Deus Triuno e Uno, a verdade da fé cristã etc.  Os pais constantemente repetem, enfatizam e vivem essas normas.  Essa experiência diária faz com todos os membros da família aceitem essas normas como sendo o estado normal das coisas.  Consequentemente, na esfera social mais ampla, tais pessoas também agirão de acordo com essas normas, seja em relações comerciais, seja em clubes, seja na política.
Amigos e inimigos da família cristã tradicional concordam com esses fatos.  Dentre outras coisas, é exatamente porque os cristãos reconhecem a efetividade da família no estabelecimento de normas sociais, que eles se esforçam para protegê-la.  E é exatamente por essa mesma razão que os defensores da licenciosidade moral tentam destruí-la.  O estado assistencialista tem sido sua ferramenta preferida nos últimos 30 anos.
Atualmente, o estado assistencialista fornece um grande número de serviços que, em outras épocas, eram todos eles ofertados pelas próprias famílias (e os quais, podemos supor, ainda seriam fornecidos em grande escala pelas famílias caso o estado assistencialista deixasse de existir).  Educação dos mais novos, cuidado pelos mais velhos e doentes, ajuda em momentos de emergência -- todos estes serviços foram hoje efetivamente "terceirizados" para o estado.  As famílias foram degradadas e rebaixadas a pequenas unidades de produção que compartilham entre si as contas da casa, os carros, a geladeira e, obviamente, os impostos.  O estado assistencialista, financiado por impostos, fornecerá a educação e os serviços médicos.
Em vários países, as famílias podem hoje deduzir do imposto de renda gastos com saúde privada educação privada.  Porém, e ironicamente (ou talvez não tão ironicamente assim), essa medida reforçou a erosão da família.O fato é que o estado assistencialista é ineficiente; ele fornece serviços comparativamente ruins a custos comparativamente maiores.  Não precisamos nos estender muito fazendo comentários sobre a incapacidade das agências estatais em oferecer o tipo de assistência emocional e espiritual que emerge apenas da caridade.  A compaixão não pode ser comprada.  Porém, o estado assistencialista também é ineficiente em termos puramente econômicos.  Ele opera por meio de grandes burocracias e é, desta forma, responsável pela falta de incentivos e critérios econômicos que impedem o desperdício de dinheiro.  Nas palavras do papa João Paulo II:
Ao intervir diretamente e privando a sociedade de sua responsabilidade, o estado assistencialista provoca a perda de energias humanas e um aumento exagerado das agências estatais, as quais são dominadas mais por lógicas burocráticas do que pela preocupação em servir os usuários, fazendo com que haja um acréscimo enorme das despesas.  Com efeito, parece conhecer melhor as necessidades e ser mais capaz de satisfazê-las quem está mais próximo dos necessitados.  Adicionalmente, vale ressaltar que certos tipos de necessidades requerem respostas que não sejam apenas materiais, mas que sejam capazes de compreender a mais profunda necessidade humana.
Todos sabem disso por experiência prática, e vários estudos científicos chegam à mesma conclusão.  É exatamente pelo fato de o estado assistencialista ser um arranjo econômico ineficiente, que ele depende exclusivamente de impostos.  Se o estado assistencialista tivesse de concorrer com as famílias em termos iguais, ele jamais duraria muito tempo.  Ele só expulsou do "mercado assistencial" a família e as caridades privadas porque as pessoas são obrigadas a pagar por ele de um jeito ou de outro.  Elas são obrigadas a pagar impostos, e elas não podem impedir o governo de se endividar cada vez mais -- medida essa que absorve o capital que de outra forma seria utilizado para a produção de bens e serviços distintos.
O excessivo tamanho do estado assistencialista dos dias atuais representa um ataque total e direto à moral cristã.  Mas ele também enfraquece essa moral por vias indiretas, a mais notável dela sendo o subsídio de maus exemplos morais.  O fato é que alguns "estilos de vida" alternativos carregam consigo grandes riscos econômicos, tendendo portanto a serem mais custosos que os tradicionais arranjos familiares.  O estado assistencialista socializa os custos de tais comportamentos, dando-lhes uma proeminência muito maior do que teriam em uma sociedade livre. 
Em vez de gerar uma penalidade econômica, o assistencialismo pode na verdade prover vantagens econômicas aos seus recebedores, pois ele os dispensa dos custos da vida familiar (por exemplo, os custos associados à criação de filhos).  Com o sustento do estado assistencialista, os assistidos podem então fazer escárnio da moral conservadora, rotulando-a como sendo algum tipo de superstição que não tem nenhum impacto na vida real.  A dimensão espiritual parece clara: o estado assistencialista sistematicamente expõe as pessoas à tentação de acreditarem que não existe absolutamente nenhum preceito moral que já foi testado e aprovado pelo tempo.
Permita-me enfatizar aqui que o objetivo das observações anteriores não foi atacar os serviços assistencialistas, os quais são na verdade um componente essencial das sociedades cristãs.  Antes, o ponto é que a inflação monetária destrói o controle democrático sobre a oferta desses serviços; que isso invariavelmente leva a um crescimento excessivo do estado assistencialista e a várias formas de assistencialismo; e que isso, por sua vez, não é algo inócuo ao caráter moral e espiritual da população.
As considerações acima não são de maneira alguma um relato completo e profundo do legado cultural e espiritual da inflação monetária.  Porém, elas devem ser suficientes para comprovar o ponto principal: a inflação monetária é uma usina geradora de destruição social, econômica, cultural e espiritual.

33 minutos de esclarecimento da diferença do capitalismo de amigos ou quadrilha para o verdadeiro capitalismo liberal.
                                                   




quarta-feira, 13 de abril de 2016

Tragédia Maldita dos Esquerdistas



Tragédia maldita dos esquerdistas: Juros simples na dívida dos Estados

Vamos começar com uma dado bem concreto. Os Estados no Brasil estão passando por uma imensa dificuldade de pagar suas contas. Já foi assim no ano passado e, neste ano, será ainda pior porque não há como cortar os investimentos públicos em cerca de 50%, como fizeram no ano passado, e muitos já utilizaram o que podiam de depósitos judiciais. Assim, a tendência é que a situação fiscal dos Estados piore.

O que fazer? O problema fiscal dos Estados no Brasil é o tamanho da burocracia: gastos com pessoal ativo e inativo. O peso dessa conta nos relatórios da Lei de Responsabilidade Fiscal mostram que a folha de pessoal dos Estados é entre 45% a 50% da RCL. Mas a conta correta é bem maior, algo entre 60% e 70% da RCL que eles Estados têm livre para pagar pessoal.

Assim, ajuste fiscal no âmbito dos Estados passa, necessariamente, por controle de gasto com pessoal – dispensa de funcionários públicos e redução de aumentos salariais. Isso é uma agenda impopular? Claro que é. Mas a alternativa também é impopular: aumento de carga tributária e/ou inflação.

Mas e se o PIB voltasse a crescer 4% ou 5% ao ano? Seria bom, mas para isso acontecer ,no médio prazo, nos próximos dez anos, será necessário quase um milagre. E fica difícil fazer planejamento baseado na expectativa de um milagre – se for para acreditar em milagres, vou mandar um teste difícil para Deus: fazer o Senador Lindbergh Farias (PT-RJ) defender a politica de ajuste fiscal do seu governo e elogiar os políticos liberais. Amém.

Dito isso, o que preocupa é que os governadores estão presos entre a necessidade imediata de cumprir com suas obrigações sem recursos financeiros para pagar as contas. O ajuste terá que ser dos dois lados: (i) dar aos govenadores instrumentos legais para reduzir a folha de pessoal, e (ii) algum alivio de curto prazo.

O Min da Fazenda já sinalizou com esse alivio de curto prazo por meio da ampliação do prazo de pagamento das divida, o que reduziria o pagamento de juros anuais em R$ 12 bilhões ao ano que se transformariam em despesa e, logo, em queda correspondente do resultado primário. Excelente. Isso já vale uma boa reza e algumas velas de agradecimento ao Min. da Fazenda Nelson Barbosa. Mas parece que alguns governadores querem mais.

O Projeto de Decreto Legislativo nº 315 de 2016, de autoria do irresponsável Deputado Esperidião Amin, propõe que o cálculo de juros da renegociação das dividas dos estados e municípios, que trocaram a correção da dívida de IGP-DI mais 6% a 9% ao ano por Selic ou IPCA + 4% ao ano, o que for menor, passe a ser feita por juros simples. Ou seja, ao invés da correção da dívida se dar por juros compostos, a correção se daria por juros simples.

Mas se vale para os Estados porque não valeria então para a sua dívida do cartão de crédito ou do cheque especial? Mas se vale para as dívida por que não valeria também para sua aplicação financeira nos bancos? É claro que o projeto é um absurdo e deveria ser rejeitado.

Vamos a tragédia O que aconteceria se aprovado? A dívida dos estados e municípios seria reduzida de imediato em R$ 300 bilhões. Isso não altera a dívida pública geral, a divida bruta do setor público de 67% do PIB. Mas ao reduzir a fortemente a dívida dos estados e municípios, esses entes da federação poderiam reduzir o pagamento de juros não apenas neste ano mas ao longo das próximas décadas e, assim, teriam exigência de um primário estruturalmente menor e ainda poderiam contrair novas dividas.

Isso é um absurdo. Se alguns Estados querem que o governo perdoe sua divida, talvez seja melhor que esse pleito fique claro. Mas corrigir retroativamente a divida por juros simples é uma coisa totalmente sem sentido que, acreditem, corre o risco de ser aprovado na Câmara dos Deputados.

Se o Projeto de Decreto Legislativo nº 315 de 2016 for aprovado, esqueçam o debate sobre ajuste fiscal e se preocupem mais com inflação, em entrar na justiça contra o seu banco e contra a administradora do seu cartão de crédito. Ademais, aumenta o risco de, no futuro próximo, termos uma renegociação forçada da dívida do setor público (olhem como fui educado: falei em renegociação forçada e não em calote).

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Os jeco caipiras com cartão de crédito brasileiro.


Os jeco caipiras com cartão de crédito brasileiro

A meca do PICMB
A meca do PICMB
Ele não faz trabalhos domésticos. Não tem gosto nem respeito por trabalhos manuais. Se puder, atrapalha o trabalho de quem pega no pesado. Aprendi isso em criança: só enfia o pé na lama com gosto quem nunca teve o desgosto de ir para o tanque na área de serviço, depois, esfregar o tênis ou a chuteira debaixo de água fria. Só deixa um resto de bebida secar no fundo de um copo quem nunca teve que fazer o malabarismo de meter a mão lá dentro com uma esponja, com a barriga encostada na pia, para tentar lavá-lo.
Trata-se de uma tradição lusitana, ibérica, que vem sendo reproduzida aqui na colônia desde os tempos em que os negros carregavam em barris, nas costas, a toilete dos seus proprietários, e eram chamados de “tigres” – porque os excrementos lhes caíam sobre as costas, formando listras que lembravam a pelagem do animal. O perfeito idiota de classe média brasileiro, ou PICMB, não ajuda em casa também por influência da mamãe, que nunca deixou que ele participasse das tarefas – nem mesmo por ou tirar uma mesa, nem mesmo arrumar a própria cama. Ele atira suas coisas pela casa, no chão, em qualquer lugar, e as deixa lá, pelo caminho. Não é com ele. Ele foi criado irresponsável e inconsequente. É o tipo de cara que pede um copo d’água deitado no sofá. E não faz nenhuma questão de mudar. O PICMB é um especialista em não fazer, em fazer de conta, em empurrar com a barriga, em se fazer de morto. Ele sabe que alguém fará por ele. Então ele se desenvolveu um sujeito preguiçoso. Folgado. Que se escora nos outros, não reconhece obrigações e que adora levar vantagem. Esse é o seu esporte predileto – transformar quem o cerca em seus otários particulares.
O tempo do perfeito idiota de classe média brasileiro vale mais que o das demais pessoas. É a mãe que fura a fila de carros no colégio dos filhos. É a moça que estaciona em vaga para deficientes ou para idosos no shopping. É o casal que atrasa uma hora num jantar com os amigos. A lei e as regras só valem para os outros. O PICMB não aceita restrições. Para ele, só privilégios e prerrogativas. Um direito divino – porque ele é melhor que todos os outros. É um adepto do vale tudo social, do cada um por si e do seja o que deus quiser. Ele só tem olhos para o próprio umbigo e os únicos interesses válidos são os seus.
O PICMB é o parâmetro de tudo. Quanto mais alguém for diferente dele, mais errado esse alguém estará. Ele tem preconceito contra pretos, pardos, pobres, nordestinos, baixos, gordos, gente do interior, gente que mora longe. E ele é sexista para caramba. Mesma lógica: quem não é da sua tribo, do seu quintal, é torto. E às vezes até quem é da tribo entra na moenda dos seus pré-julgamentos e da sua maledicência. A discriminação também é um jeito de você se tornar externo, e oposto, a um padrão que reconhece em si mas de que não gosta. É quando o narigudo se insurge contra narizes grandes. O PICMB adora isso.
O perfeito idiota de classe média brasileiro vai para Orlando sempre que pode. Seu templo, seu centro de peregrinação, é um outlet na Flórida. Acha a Europa chata. E a Ásia, um planeta esquisito com gente estranha e amarela que não lhe interessa. Há um tempo, o PICMB ( Perfeito Idiota da Classe Média Brasileira) descobriu Nova York – para onde vai exclusivamente para comprar. Ficou meia hora dentro do Metropolitan, uma vez, mas achou aquilo aborrecido demais. Come pizza no Sbarro. Joga lixo no chão. Só anda de táxi – metrô, com a galera, nem em Manhattan. Nos anos 90, comprava camiseta no Hard Rock Cafe. Hoje virou um sacoleiro em lojas com Abercrombie & Fitch e Tommy Hillfiger. Depois de toda a farra, ainda troca cotoveladas no free shop para comprar uísque, perfume, chocolate e maquiagem. O PICMB é, sobretudo, um cara cafona. Usa roupas de polo sem saber o lado por onde se monta num cavalo. Nem sabe que aquelas roupas são de polo. Ou que polo é um esporte.
O PICMB adora pagar caro. Faz questão. Não apenas porque, para ele, caro é sinônimo de bom. Mas, principalmente, porque caro é sinônimo de “cheguei lá” e “eu posso” e “veja o quanto eu paguei nesse relógio ou nessa calça da Diesel”. Ele exibe marcas como penduricalhos numa árvore de natal. É assim que se mostra para os outros. Se pudesse, deixaria as etiquetas presas aos itens do vestuário e aos acessórios que carrega. O PICMB é jeca. É brega. Compra para se afirmar, para compensar o vazio e as frustrações, para se expressar de algum modo. O perfeito idiota de classe média brasileiro não se sente idiota pagando 4 000 reais por um console de vídeo game que custa 400 dólares lá fora. Nem acha um acinte pagar 100 000 reais por um carro que vale 25 000 dólares. Essa é a sua religião. Ele não se importa de ficar no vermelho – a preocupação com ter as contas em dias é para os fracos. Ele é o protótipo do novo rico burro. Do sujeito que acha que o bolso cheio pode compensar uma cabeça vazia.
O PICMB é cleptomaníaco. Sua obsessão por ter, e sua mania de locupletação material, lhe fazem roubar roupão de hotel e garrafinha de bebida do avião e amostra grátis de perfume em loja de departamento. Ele pega qualquer amostra de produto que esteja sendo ofertada numa degustação no supermercado. Mesmo que não goste daquilo. O PICMB adora boca livre e hotéis “all inclusive”. Ele adora camarote – quando ele consegue sentir o sangue azul fluindo em suas veias. Ele é a tradução perfeito do que é um pequeno burguês.
O perfeito idiota de classe média brasileiro entende Annita. Vibra com Latino. Seu mundo cabe dentro do imaginário do sertanejo romântico. Ele adora shows megaproduzidos, com pirotecnia, luzes e muita coreografia, cujos ingressos custem mais de 500 reais – mesmo que ele não conheça o artista. Ele não se importa de pagar uma taxa de conveniência escorchante para comprar esse ingresso da maneira mais barata para quem lhe vendeu – pela internet.
E o PICMB detesta ler. Comprou “50 Tons” para a mulher. E um livro de autoajuda para si mesmo. Mas agora que a novela está boa ficou difícil achar tempo para ler.

Quer saber de onde vem nossa postura estupida mesmo escolarizado?