Diante do óbvio fracasso do socialismo, no atacado e no varejo, em
cumprir suas mirabolantes promessas de abundância material e excelência moral,
o pensamento liberal recuperou paulatinamente uma pequena parte de sua antiga influência
graças aos esforços de Friedrich Hayek, Milton Friedman, Karl Popper, Peter
Bauer, James Buchanan, Raymond Aron e outros pensadores eminentes. É isso o
famoso neoliberalismo, que se traduz em continuação e aperfeiçoamento do antigo
liberalismo. Na esfera política, o neoliberalismo só alcançou alguma expressão
nos anos 80 do século passado, inspirando certas medidas, bastante limitadas,
de alívio para a iniciativa individual na economia, tomadas pelos governos
Thatcher e Reagan, tão claramente bem-sucedidas que logo foram imitadas por
todo o mundo, inclusive em países comunistas como a China e o Vietnã. Vale
frisar que o neoliberalismo ganhou força nos meios intelectuais combatendo os
socialismos comunista e fabiano (ou social-democrata) com argumentos
irrefutáveis, reforçados pela prova empírica inegável do fiasco universal do
coletivismo, totalitário ou limitado, e só teve aplicação restrita no cenário
político quando todas as formas de socialismo possíveis e imagináveis
(comunismo, fascismo, nazismo, social-democracia etc) já tinham sido tentadas e
rejeitadas.
Essa tímida ressurreição
do liberalismo como doutrina intelectualmente respeitável e como alternativa
política e econômica válida enfrentou uma formidável barragem de propaganda
caluniosa movida pela esquerda culturalmente hegemônica. O neoliberalismo passou
a ser inculpado por tudo de mau que acontecia pelo mundo, sobretudo em regiões
em que absolutamente jamais houvera liberalismo ou neoliberalismo, como a
África, continente dominado por regimes socialistas em variados graus. Após
décadas de vulgarização e abuso, o termo "neoliberal" adquiriu uma
conotação extremamente negativa -malgrado ninguém saiba ao certo o porquê -,
comparável ao sentido odioso de palavras como "nazista" e
fascista". Acontece que nazista é a abreviação de nacional-socialista,
assim como virulentamente nacionalista e socialista foi o fascismo. Dito de
outro modo, o nazi-fascismo é irmão xifópago do socialismo dito de
"esquerda". O resultado dessa monumental campanha ideológica pode ser
aferido pela simples análise do sentido comum dos termos "comunista"
e "socialista", usualmente significando uma doutrina política
intrinsecamente benevolente e humanista, cujos efeitos bárbaros são debitados
exclusivamente à perversões acidentais identificadas com o termo "stalinismo".
Muita gente ainda se diz comunista, e quase todo mundo se considera socialista
(ou de "esquerda", que é a mesma coisa), com a maior naturalidade,
embora regimes comunistas e socialistas tenham perpetrado as piores
barbaridades da História em toda parte. Por outro lado, ninguém – ninguém
mesmo! – ousa assumir-se publicamente como neoliberal. Ora, pode-se concordar
ou discordar das idéias liberais (ou neoliberais), desde que se procure tomar
conhecimento do que efetivamente são essas idéias, submetendo-as então à uma
crítica racional. É absurdo tomar como reais idéias pela imagem caricatural
dela que seus inimigos forjaram. Mas é exatamente isso que ocorre.
Há que haver
igualdade material, dizem de modo bastante vago, e cabe ao Estado instaurá-la,
comandado por eles mesmos ou por quem acate suas idéias. Como Thomas Solwell
observou com sagacidade, os intelectuais de "esquerda" dividem a
humanidade em três grupos: os desvalidos, os desalmados e os iluminados. Os
primeiros, os pobres, são maltratados pelos segundos, os ricos, cabendo aos
terceiros – os próprios intelectuais de "esquerda" – intervir munidos
dos poderes coativos estatais para defender os bons dos maus e implantar a
"justiça social" na Terra. A contradição insolúvel nesse discurso
igualitário é que sua execução exige que um determinado grupo seja incumbido da
tarefa de igualar os outros grupos, detendo para tanto poderes exclusivos, o que
por si só inviabiliza a priori a igualdade. De resto, se os indivíduos são
naturalmente desiguais e a igualdade material é impossível – até porque se
fosse viável igualar a renda monetária de todos (e não é), seria impossível
igualar a renda real, vez que, v.g., para quem vive no litoral é muito mais
barato o lazer na praia do que para quem vive no interior – a doutrina
igualitária é absolutamente inexequível, portanto absurda e, logo,
intrinsecamente nefasta.
Para os intelectuais de
esquerda as "elites perversas" são sempre os outros, nunca eles
mesmos, não obstante eles constituam evidentemente um grupo de elite. Reparem
no Luis Fernando Veríssimo, por exemplo. Nascido em berço de ouro, educado nos
Estados Unidos, escritor de um best-seller atrás do outro, prestigioso e
regiamente pago colunista de grandes jornais, bajulado servilmente pela mídia,
amigo e guru de políticos influentes e poderosos, ele costuma passar as férias
em Paris. Se Veríssimo não integra a elite brasileira, a que classe ele
pertence então? Mas o incensado escritor de "esquerda" e seus pares
jamais se incluem na fina-flor da sociedade brasileira, a despeito de
contribuirem mais do que ninguém para a formação da cultura do país, e daí
naturalmente para a organização política nacional.
Fala-se muito no
"poder econômico" das "elites", que seriam responsáveis
pelo atraso e pela miséria no Brasil. Ora, e quem tem mais poder econômico
nesse país do que o Estado, que inclusive detém o poder de criar dinheiro? Que
indivíduo, que empresa, que elite se reveste do poder de tributar, de se
apropriar de 40% do que se produz nacionalmente? Quem tem privilégios como
estabilidade no emprego, vencimentos desvinculados da produtividade do
trabalho, aposentadoria especial, remuneração muito acima da média nacional etc.
etc. etc.? Ora, que eu saiba são os funcionários públicos a elite mais rica e
poderosa do Brasil. O rendimento médio mensal de um servidor federal está por
volta de R$ 3.355,09; já o assalariado do setor privado recebe em média R$
751,60 por mês. Os funcionários federais aposentados e pensionistas ganharam em
média R$ 2.474,37 ao mês; os aposentados do regime comum do INSS tiveram que se
contentar com R$ 324,00 mensais em média. Acontece que a incessante ladainha
dos intelectuais de "esquerda" é justamente atribuir ainda mais poder
e mais dinheiro a essa elite insaciável, pobre Brasil
Abaixo fica a pergunta a direita é racista e a esquerda é amor?
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