Por
que os piores chegam ao poder
Uma
pergunta aos esquerdistas, porque o partido atualmente no poder abandonou seu suposto compromisso
original com a ética para se dedicar com entusiasmo a toda sorte de prática política pouco louvável que antes
denunciava. Este tipo de indagação geralmente elogia o idealismo daqueles que
deram origem ao partido e que o repudiaram depois de sua transformação. O
propósito do presente texto é criticar essa manifestação da velha tese da "causa traída", argumentando que a
corrupção observada é de fato uma conseqüência lógica do projeto de poder advogado pelo tipo particular de idealismo em
questão.
A
tese da causa traída surge com bastante freqüência quando examinamos as
opiniões políticas da população. Desse exame, podemos de fato extrair a
sensação de que existem dois tipos de
políticos: aqueles que têm experiência na área e já sabemos que são corruptos e
aqueles novatos, que apesar de recebem nossos esperançosos votos, se revelarão
corruptos no futuro, traindo seus eleitores. Algumas explicações possíveis
para esse fenômeno são as seguintes: (a) os
eleitores são azarados na escolha dos políticos, (b) o comportamento dos
políticos reflete a falta de ética do resto da população (a falta de ética
aparentemente nunca caracteriza a pessoa que expõe esse raciocínio...), (c) o
povo é ignorante e não sabe votar, ou (d) existe algo inerente ao sistema
político que transforma idealistas em corruptos e oportunistas. A primeira
'explicação', evidentemente improvável,
é a melhor resposta para quem acredita na tese da traição da causa. A segunda
explicação, quase tão ingênua quanto
a primeira, ignora os incentivos gerados
pelas instituições, induzindo a
esperança vã no surgimento de um líder moralmente superior. A terceira, por
seu turno, tem um elemento correto, que
mostra como é racional para um eleitor
se manter ignorante a respeito do desempenho dos políticos (um voto não muda o
resultado da eleição e ao mesmo tempo se informar a respeito dos candidatos envolve
considerável custo), permitindo que políticos auto interessados impunemente
ofertem privilégios a grupos minoritários em troca de financiamento de
campanha. A quarta hipótese,porque os
piores chegam ao poder.
Os
liberais procuram explicar tal tese inspirados pela obra do herdeiro moderno
dessa tradição, o economista austríaco
F. A. Hayek, que, no seu Caminho da Servidão,
mostra como no sistema político de um regime totalitário os piores chegam ao
topo. Embora o argumento trate de regimes
totalitários, podemos adaptá-lo às
democracias existentes nas economistas mercantilistas modernas como o Brasil. Vejamos
antes o argumento original do autor.
Para
Hayek, enquanto em uma sociedade livre as pessoas têm liberdade
para se associar voluntariamente em busca de seus próprios objetivos, numa sociedade totalitária os objetivos individuais devem ser
submetidos aos propósitos coletivos estabelecidos centralmente. Embora os coletivistas
concordem com a necessidade dessa hierarquia, não existe em absoluto consenso
em relação ao conteúdo concreto que as diretrizes centrais deveriam ter. Devido
à impossibilidade de se encontrar uma agenda mínima que a maioria concorde, o
poder central é obtido na prática pelo maior grupo relativamente homogêneo que
tenha objetivos comuns e os valores desse grupo serão então impostos ao resto da sociedade. Mas, na disputa pelo poder absoluto, ocorre um
processo de 'seleção natural' que
premia líderes com características opostas ao humanismo que inspirou os idealistas em
sua campanha pelo coletivismo: quanto mais instruído um grupo, maior a
diversidade de opiniões, de modo que o consenso tende a emergir em grupos que
acreditam em visões de mundo pouco elaboradas.
Isso é reforçado pela necessidade de que, para se tornar quase consensual, a causa vencedora deve ser transmitida
eficazmente para a maioria crédula. Por outro lado, é muito difícil obter
apoio para alguma agenda sobre o que deve ser feito: um político terá muito mais sucesso unindo as pessoas em torno de uma
causa negativa. De fato, todo político
é um virtuoso na arte de explorar o sentimento de ódio ao estranho, derivado da
herança tribal da humanidade que aludimos em capítulos passados.
Mas
o verdadeiro teste do político em um regime totalitário
surge quando é necessário lidar com os inevitáveis
fracassos do planejamento central. Como um plano central não pode dar conta das complexidades do mundo real os petistas e simpatizantes não entendem isso, ele gera inevitavelmente conseqüências não
intencionais, em geral opostas ao desejado por seus idealizadores. Isso leva o líder totalitário a um dilema: ou
reconhece seu fracasso e abandona o plano ou aumenta ainda mais os esforços
para controlar o resto da sociedade e ao mesmo tempo atribui o fracasso a
imaginários sabotadores, inimigos do povo. A primeira opção é barrada pela
infinita sede de poder,( Lula , Dirceu e amigos) derivada das certezas inerentes à doutrina dos
idealistas. Estes, no entanto, não têm o estômago necessário para impor toda a
violência que a manutenção de seu projeto de poder requer. Novamente, a lógica
desse processo requer que os piores assumam o poder: ideólogos sofisticados
como Bukharin dão lugar a tipos violentos e sem escrúpulos como Stalin.
Explica-se assim a diferença entre a moral que gera o totalitarismo e a moral
requerida pela prática do totalitarismo.
Na explicação hayekiana, a segunda segue-se necessariamente da primeira: não há
assim traição da causa.
Da
mesma forma que a tese da impossibilidade de cálculo
econômico no socialismo é útil para analisar a lógica da intervenção nos
mercados, a explicação sobre como os piores chegam ao poder também no totalitarismo pode ser empregada na
análise das sociedades altamente intervencionistas que encontramos no presente.
Se uma parcela significativa dos impostos pagos
pela sociedade é alocada por critérios políticos e não através de trocas
voluntárias nos mercados, todo movimento inicialmente idealista que defenda
essa forma de alocação será corrompido se de fato buscar o poder a todo o
custo.
Se
o projeto de poder de um partido ( PT, PC do B, e nanicos)inclui a progressiva estatização da economia,
poderíamos perguntar como isso pode ser conciliado com um pretenso compromisso
com a ética na política, se essa estatização implica no aumento das
oportunidades de enriquecer via ação política e diminuição das oportunidades na
esfera puramente voluntária? Em outros termos, qual é o sentido do
compromisso com a ética de um partido
estatista se o argumento de que a corrupção é proporcional ao tamanho e
influência do estado não for confrontado?
Como
então os piores chegam ao poder? Por um lado, o partido tem que lidar com o choque entre a utopia
e a realidade. Seus crentes aprendem que não
existe almoço grátis: o mel não passou subitamente a jorrar nas fontes das
praças. Por sua vez, as intervenções
na economia geram sistematicamente resultados opostos aos desejados. Embora as
falhas de governo sejam atribuídas 'aos mercados' e paradoxalmente gerem
demanda por mais intervenções, o acúmulo de fracassos ao longo do tempo
deteriora o orçamento público, diminuindo a margem de manobra do governo. O amor ao poder faz então que as teses originais
sejam pragmaticamente abandonadas em favor de políticas ditas 'neoliberais'[2]: os bolcheviques reintroduzem preços
durante a NEP e os políticos de esquerda no Brasil se preocupam em algum grau
com o déficit público. Enquanto os políticos são forçados a adotar esse padrão
duplo de pensamento, apenas os intelectuais podem se dar ao luxo de continuar
acreditando nas ideias originais, buscando refúgio na ilusão de que essas
concessões são necessárias apenas enquanto se atua no 'modo de produção
capitalista'.
O que o eleitor brasileiro ainda não
compreendeu é que a estada no poder se prolongar a bastante, Demagogia,
fabricação de inimigos do povo (as elites...), pouco apreço pela liberdade de
imprensa e pelo debate de idéias se tornam atributos importantes do político.
A
lógica do estatismo impõe ainda mais um
traço de personalidade que se requer dos políticos: a arte de distinguir entre
corrupção ruim (levada a cabo pela oposição) e corrupção boa (em nome da
causa). Entre os políticos que exercem o poder, vista grossa a corrupção é uma questão de sobrevivência. Uma
consequência não intencional do estatismo é a criação de uma
clientela dependente dos privilégios legais concedidos pelo estado, que inclui
funcionários públicos, sindicatos, empresários já estabelecidos, com acesso
privilegiado ao crédito e, ironicamente, os bancos, que lucram com o
financiamento do estado grande como jamais poderiam sonhar em lucrar se
intermediassem apenas financiamento de projetos privados em mercados livres. Mas, se sob o estatismo
crescente a busca por privilégios (atividade de rent-seeking)
na margem dá um retorno esperado superior à atividade voluntária, o que
aconteceria com um político que repudiasse a troca de favores e a corrupção? A lógica do
intervencionismo leva então a seleção de líderes que são, colocando de forma
delicada, insensíveis à ética na política.
Em
resumo, contemplamos uma ideologia que pretendia inicialmente acabar com os
privilégios, mas o exercício concreto do
poder em uma economia estatizada fez com que a mesma ideologia alimente a maior
máquina de geração de privilégios que se possa conceber.
Homenagem ao PT e suas demoníacas loucuras
em que enfiou o Brasil.
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