Estado Brasileiro e seu
Povo
Eu estou convencido de que,
no Brasil, o Estado tem sido visto como a solução para tudo. Há pobreza e
corrupção? Há compadrio e aparelhagem da máquina pública? Há ignorância e
atraso? Resistimos a obedecer a todas as normas e consideramos babacas quem as
honra? Votamos em canalhas,
mensaleiros e criminosos conhecidos? A culpa (e, portanto, a solução) é do
ESTADO. Um Estado com letras maiúsculas. Eis um
quadro curioso. A sociedade que sustenta o Estado não o vê como coisa sua. Pelo
contrário, ela o imagina como um estrangeiro dotado da capacidade de resolver
os seus problemas. Por isso, existe tanto a demanda do Estado como uma panaceia salvacionista, que pode nos transformar em
funcionários públicos com salários altos, mas sem trabalho; quanto as acusações de negligência, porque a sociedade recusa
considerar suas condutas. É mais fácil transferir as mudanças para o Estado.
Assim, a sociedade concilia sua vergonhosa vertente reacionária e aristocrática
com o desejo moderno de mudança. A ilusão é mais ou menos assim: nós queremos
mudar, mas o Estado não muda. Logo, não mudamos coisa nenhuma. Nossos
representantes são todos uns canalhas e por isso a "política" é uma
desgraça. Mas quem são, cara-pálida, os nossos "políticos"? Serão
marcianos? Ou são os nossos parentes e amigos, eleitos pelos nossos votos? Foi
o que ocorreu com a Lei Seca e é o que está ocorrendo com o processo eleitoral
e essa extraordinária e autenticamente popular lei dos fichas-sujas.
Convenhamos que ter um
projeto, ou seja, um desejo consciente de eliminar bandidos do Parlamento e dos
cargos eletivos porque, no Brasil, a figura da "imunidade
parlamentar" foi aristocraticamente ampliada e aplicada a todo tipo de
delito, só pode ocorrer, a esta altura do campeonato democrático entre nós. É
um enorme avanço que finalmente denuncia como o sistema foi feito para
enriquecer e proteger canalhas que não querem atuar para a coletividade, mas
dela tirar partido. A idealização do sistema político chegou a tal ponto que pensamos poder
mudar radicalmente certas práticas sociais somente com a adoção do sistema
eleitoral, sem pensar nas suas demandas e consequências. Quem, pergunto ao
leitor, deixaria que sua escola, departamento ou instituição contrate um
bandido e, pior que isso, o proteja por meio de imunidades legais, como fez e
tenta fazer o nosso Congresso Nacional? Que tipo de
representatividade pode ser essa que mensaleiros que compram deputados com
dinheiro vivo são tidos como vanguardistas sociais e revolucionários,
defensores do povo de Deus? Como falar em liberdade e igualdade querendo
controlar a imprensa? Ela não é ideal, mas pergunto eu: e o governo é? O que é
preferível neste vale de lágrimas? Um governo que controla as notícias ou um
sistema no qual as notícias são incontroláveis, exatamente porque a mídia
sempre deixa a desejar? Aliás, há alguma coisa numa democracia que satisfaça a
todos os desejos? O liberalismo (com o perdão da má palavra) não é,
precisamente, uma estado social de insatisfação permanente? Tem gente que pensa
que o liberalismo nasce pronto, como naquelas palestras que os espertos fazem
para empresários.
De onde vem nossos vícios
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