Há modos de discordar das
pessoas. Bolsonaristas o classificam como tucano Olavistas também porém pode-se ser muito duro qualificando o debate e o interlocutor. Mas,
para tanto, é preciso que a nossa atenção esteja voltada para o objeto em
análise e, no caso de um mestre, para os que podem aprender com a experiência. Desde
quando a vaidade do pregador conduziu a um bom lugar? Eu poderia classificar
essa pergunta de um “princípio elementar das ideias bem-sucedidas”
Olavo de Carvalho enviou o
seguinte comentário sobre o colunista Reinaldo Azevedo:
Dividir a direita em “democratas”
e “golpistas” é um simplismo indigno da sua inteligência, caro Reinaldo.
Ademais, é um princípio elementar de ciência política não julgar movimentos
políticos somente pelos “valores” que eles dizem representar, – isto é, pela
imagem que buscam ostentar –, mas pela substância das suas ações e pela
qualidade da sua estratégia. Escreverei algo mais detalhado sobre isso, e
espero que possamos trocar umas ideias a respeito.
Reinaldo Azevedo respondeu:
A área de busca do meu blog é
bastante eficiente. Coloquem lá o nome “Olavo de Carvalho”, sem aspas, e vocês
verão o que vem. Mesmo divergindo, sempre expressei meu reconhecimento a seus
dotes intelectuais. E o defendi, sim, de ataques que considerei injustos. Olavo
pode passar a dizer o que quiser a meu respeito. Mas nunca terá uma vírgula a
opor à minha fraterna lealdade. Nem ele nem ninguém. Nem os que me amam nem os
que me odeiam, ainda que por pragmatismo. Que empreste agora o peso do seu nome
para correntes que buscam me desqualificar dá testemunho do que ele decidiu
fazer dessa lealdade. Isso é com ele. Constato um fato.
Mas não se espere uma guerra. Não
vou cair nessa. Tenho mais o que fazer. E Olavo também. Seus ataques a
lideranças de grupos pró-impeachment já haviam chegado a mim. Ignorei o assunto
porque as pessoas a que ele se refere dispõem dos próprios meios e de
competência para responder — se julgassem conveniente. Rompi o silêncio quando
vi meu nome tragado pela baixaria dos acólitos.
Escreve Olavo: “É um princípio
elementar da ciência política…”. Bem, Olavo, tal assertiva não é igualmente
digna da sua inteligência. É uma tática elementar da tentativa de
desqualificação do outro transformar uma opinião ou uma platitude num
“princípio elementar”, como se o oponente já estivesse vencido no debate antes
mesmo de começar. Afinal, se o sujeito ignora que dois mais dois são quatro, as
suas considerações sobre aritmética já estão prejudicadas. Sugiro que você
releia “Como Vencer um Debate Sem Ter Razão”, de Schopenhauer. Há uma edição
excelente, com comentários muito lúcidos de um certo… Olavo de Carvalho.
Olavo sabe muito bem que isso não
é “princípio elementar” de coisa nenhuma. Ele apenas procurou me atribuir o que
não escrevi. Não julguei nem julgo o MBL e o Vem Pra Rua apenas a partir do
juízo que fazem de si mesmos. Ao contrário: já demonstrei apreço pela
substância, sim, de suas ações. E por sua estratégia. E, nesse particular, eu e
Olavo divergimos radicalmente.
Mas não é só divergência. Lamento
profundamente os termos a que ele tem apelado para se referir aos rapazes e
moças do movimento. Seus livros evidenciam que ele é capaz de muito mais. Não
serei eu a propor a Olavo, aos 68 anos, que cuide da sua “De Senectude”, como,
aos 54, já cuido da minha. Ah, Olavo! Você se fez professor de filosofia.
Chegou a hora de aprender a ser mestre. E o bom mestre não é feito pelos
discípulos. Os bons discípulos é que são feitos pelos mestres. Eu poderia
chamar isso de um “princípio elementar da convivência civilizada”. Mas é só uma
opinião.
Há modos de discordar das
pessoas. Pode-se ser muito duro qualificando o debate e o interlocutor. Mas, para
tanto, é preciso que a nossa atenção esteja voltada para o objeto em análise e,
no caso de um mestre, para os que podem aprender com a experiência. Desde
quando, Olavo, a vaidade do pregador conduziu a um bom lugar? Eu poderia
classificar essa pergunta de um “princípio elementar das ideias bem-sucedidas”.
Mas, de novo, é só uma opinião.
Sempre preferi que Olavo
estivesse participando do debate público, não o contrário. Na medida das minhas
possibilidades, sempre procurei dar visibilidade às vezes em que contribuiu
para elucidar conceitos, posições, contraposições. Mas, a partir de certo
ponto, ele perdeu a mão. E resolveu emprestar seu nome a depredadores do debate
civilizado.
Pretendo esgotar aqui essa
questão. Olavo não é notícia. Eu não sou notícia. O MBL, o Vem Pra Rua e outros
movimentos é que estão por aí, afrontando as dificuldades para fazer valer
alguns princípios civilizatórios. Já concordei com eles. Já discordei deles.
Mas faço uma coisa e outra qualificando-os como interlocutores, não o contrário.
E os defendi, sim, da baixaria, como já fiz antes quando o próprio Olavo de
Carvalho era o alvo. Ou não fiz, Olavo?
E, por óbvio, Olavo não me deve
nada por isso. A não ser o respeito devido a pessoas das quais discordamos,
quando reconhecemos que estão na luta das ideias de boa-fé.
Olhe pela janela, Olavo… Os
adversários reais ainda estão entre os girassóis. Depois se volte para os
lírios, que não fiam nem tecem. São citações, como você sabe. Não servem para
excitar a fúria circense dos Bolsonaros da vida.
Você pode muito mais.
50 minutos que valem a pena
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