Por que podemos enaltecer o Black Power e não o White Power, devem se perguntar muitos? Ao contrário do que muitos afirmaram durante os polêmicos
debates sobre o gesto controverso de Philip Anselmo no Dimebash de 2016,
Vamos trazer dois pontos da história dos Estados
Unidos.
1- Guerra Civil Americana:
Após a Segunda Revolução Industrial na Europa, entre 1850 e
1860, houve um candidato à presidência dos EUA chamado Abraham Lincoln que
almejava o desenvolvimento industrial em todo o território americano. Isso
incomodou alguns estados que viviam da economia agrícola, e por consequência,
da escravidão como recurso fundamental dessa economia. Esses estados se uniram
em um movimento separatista contra a industrialização e contra o fim da
escravidão negra. Essa turminha era chamada de Confederação, ou Estados
Confederados, e era composta por Alabama, Carolina do Sul, Flórida, Geórgia,
Louisiana, Mississipi e depois Texas. Quando Lincoln finalmente se tornou
presidente, foi declarada a guerra da Confederação contra o resto dos EUA. É a
famosa Guerra da Secessão, ou Guerra Civil Americana. A Confederação perdeu e a
escravidão negra finalmente foi ilegalizada e abolida no país.
2 - O Movimento Black Power:
Após o fim da escravidão nos EUA os negros não foram
simplesmente se misturando com resto da população. Os americanos,
principalmente os que pertenciam àqueles estados do sul, a antiga Confederação,
não toleravam a presença de negros. O negros, embora livres, eram maltratados,
marginalizados, humilhados em público e completamente segregados. Eles não
podiam usar os mesmos banheiros que os brancos, não podiam frequentar os mesmos
lugares como escolas, transportes públicos e estabelecimentos em geral. O negro
era visto como um bicho pelos brancos. Organizações racistas foram criadas
nessa época com o objetivo de pregar a supremacia branca, como a Ku Klux Klan
por exemplo.
O movimento Black Power apareceu no final da década de 1960
com o objetivo de promover movimentos culturais negros. Isso foi uma forma de
auto-afirmação do negro. Uma forma de se valorizar e mostrar que são tão
humanos quanto qualquer branco, porque estavam cansados de serem inferiorizados
pelos racistas. Foi um movimento importante na busca pela igualdade, e pelos
direitos civis dos negros. Mas o objetivo AINDA não foi atingido.
Até hoje os negros são marginalizados e discriminados nos
EUA, sobretudo no Sul, onde ainda vive o sentimento separatista da
Confederação, e os negros são maltratados, agredidos e mortos. A expressão
Black Power ainda precisa existir. Ainda se faz necessário algo que levante a
cabeça dos negros perante as dificuldades geradas pelo racismo no dia a dia.
Todas as comunidades que são marginalizadas pela sociedade
buscam criar movimentos que exponham o seu orgulho e a sua humanidade.
E quanto ao White Power?
White Power é o nome dado a grupos simpatizantes do
neonazismo e da supremacia branca. Existem no mundo inteiro com certas
variações ideológicas. No caso do sul dos EUA existe o grupo White Power cujos
membros são admiradores dos Skinheads alemães e eventualmente exercem
atividades de agressão física a negros e imigrantes. Estes grupos estão
diminuindo aos poucos e suas atividades estão menos constantes, mas o espírito
White Power ainda vive em muitas pessoas que sonham em criar um mundo
"purificado" pela raça branca supostamente superior.
Agora vamos juntar Philip Anselmo, a Confederação, o Black
Power e o White Power em um único contexto.
Philip Anselmo é um ídolo do Heavy Metal e uma figura
fortemente admirada por uma comunidade que, mais do que qualquer outra, tem
muito orgulho do gênero musical que ouve. Está imortalizado graças aos feitios
do Pantera nos anos 90.
Quando uma figura icônica como Philip Anselmo grita
publicamente White Power enquanto faz a saudação nazista, dá uma força renovada
para os grupos declaradamente racistas e seus simpatizantes. Fazendo isso Phil
revigora o racismo que foi combatido às custas de tanto suor e sangue e se
torna um símbolo para o movimento White Power. Um símbolo vivo e que não tem
medo de enfrentar críticas. Torna-se um verdadeiro líder.
Ao mesmo tempo, joga anos e anos de luta pela igualdade
negra no ralo!
Não podemos ignorar também o fato de que Philip Anselmo é
reconhecido internacionalmente e graças a este último evento a força racista
vai se ouriçar no mundo inteiro, inclusive aqui no Brasil.
Já vimos muitos indícios de racismo no Pantera. O amor
declarado à bandeira dos Estados Confederados e o próprio espírito separatista
exacerbado como pudemos ver em seu quarto álbum, The Great Southern Trendkill
(Os grandes Matadores do Sul), além de outras declarações abertas feitas há
muito tempo que foram deixadas pra lá. Phil em uma entrevista antiga disse que
tinha muito orgulho da cor de sua pele. Não me parece coincidência que todos os
integrantes do Pantera tenham nascido nos estados que pertenciam à
Confederação. Me esforço para não generalizar, mas os casos de agressões e
assassinatos sob a ideologia da bandeira separatista não são raros naquela
região.
Então vamos refazer a pergunta. Por que podemos enaltecer o
Black Power e não o White Power?
O Black Power é um movimento que busca uma igualdade ainda
não conquistada pelos negros. Atua levantando a auto-estima de quem sempre
esteve por baixo.
O White Power é um movimento que busca aniquilar qualquer
raça que não seja a branca. Prega o pensamento de que brancos são superiores e
que devem prevalecer.
É uma luta protagonizada por negros, que deve ser apoiada por
brancos. para que um dia tenhamos uma sociedade mais justa.
Philip Anselmo errou ,estava bêbado,deve ser dado a ele o benefício generoso do perdão É preciso mostrar generosidade porém dizer que este tipo de postura não é a mais adequada para um artista ou para qualquer cidadão..
Phil Anselmo e sua demonstração humilde de desculpas
"Para todos aqueles que tenham interesse. Cada cidadão deste mundo tem o direito inalienável de viver com dignidade e respeito sem sofrer ódio ou opressão. Digo isto do fundo do meu coração que está destroçado mas, ainda assim, carrega toda a culpa.
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É de comum acordo que podemos escolher entre aprender com nossos erros ou persistir sendo insensíveis. Sou totalmente responsável pelos erros que cometi, e posso garantir que não acontecerão mais mediante minhas ações, e não somente minhas palavras.
Meus colegas de bandas estão sofrendo as consequências desse meu comportamento, e eu publicamente peço desculpas a eles. Nunca em minha vida vou querer que afundem junto comigo, então eu sugeri que eles sigam sem mim.
Meus maiores problemas estão nos excessos relacionados à bebida, que me fazem agir de forma estúpida, repulsiva e falar besteiras típicas do espírito humano. Vou lidar com estes problemas. Sinto repulsa pelos meus atos, e os transtornos que estou passando são justificados pelas mágoas que causei.
Percebi que vivemos em uma sociedade onde as desculpas NÃO são aceitas facilmente, espero que isto mude um dia, mas também entendo que serei evitado enquanto estiver limpando esta sujeira que causei.
De todo meu coração e com toda a franqueza, novamente peço desculpas por toda a dor que causei.
Com sinceridade, amor, esperança e respeito-
Philip H. Anselmo"
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