Já notaram que há uma parcela da sociedade que está sempre
intransigentemente contra qualquer proposta que vise a reduzir o volume de
gastos do governo, como a PEC 241 (PEC do Teto) ou a reforma da previdência
(qualquer uma)? Sua estratégia para manter tudo como está – independentemente
dos custos que enviaremos para as gerações futuras – envolve falácias e
sofismas cujo objetivo é tentar demonstrar que a conta de qualquer mudança
recairá sobre os mais pobres.
Existe um vídeo que anda circulando pelas
redes.Nele, tenta-se demonstrar que há
recursos mais do que suficientes para custear a previdência e a assistência
social, e que o problema é que tais recursos foram desviados para pagar os
juros da dívida. Não só esquecem que o
caixa do Tesouro é único, como confundem causa e efeito, pois a dívida é
conseqüência dos constantes déficits, e não o contrário.
Outra estratégia muito em voga é vincular a PEC do teto ao
corte de verbas para as áreas sensíveis da saúde e da educação, tentando trazer
para seu lado os alunos da rede pública e os dependentes da combalida saúde
pública. Só não explicam por que,
durante as últimas décadas, os serviços públicos de educação e saúde só
pioraram, apesar do aumento contínuo dos gastos do governo nessas áreas.
Essas baboseiras já foram muito bem rebatidas por gente mais
capacitada do que eu. Portanto, saindo
um pouco do habitual, hoje pretendo focar não nas mensagens, mas nos
mensageiros desses discursos oportunistas e demagógicos esquerdistas, exclusivamente
voltados para enganar os incautos e arregimentar apoio dos menos avisados.
A narrativa comum nesses discursos é a mesma utilizada, desde
sempre, pelo esquerdismo, focado nas “injustiças sociais” e privilegiando os
mais frágeis e necessitados. Essa narrativa é tão bem trabalhada entre os
jovens que estes, não obstante muitas vezes sintam que há algo de muito errado
e pernicioso na sua lógica interna, recusam-se admitir a verdade, mesmo depois
da fase adulta, preferindo permanecer, mercê de uma singularíssima idiossincrasia,
ancorados no porto seguro dos discursos de igualdade e fraternidade. Não querem escutar a voz da razão, mas
somente aplacar suas consciências, redimir suas culpas. Ser de esquerda, afinal, os faz sentir bons,
puros e magnânimos.
Esses são os inocentes úteis, os soldados rasos do
esquerdismo. O lado, digamos, sincero e
bem intencionado da seita socialista.
Mas há o outro lado da moeda. O
lado da liderança; dos mandarins; dos ideólogos; do pessoal que reza segundo a
cartilha resumida pelo velho brocado popular: “Farinha pouca, meu pirão
primeiro”.
Os tipos mais comuns vivem encastelados em cargos públicos
muito bem remunerados, detêm vastos privilégios trabalhistas e polpudas
aposentadorias. Seu discurso (da boca
pra fora) defende a redistribuição da renda (dos outros) e o fim das
desigualdades sociais. Sua palavra de ordem é Justiça Social que só pode ser
alcançada através de um Estado provedor.
Malgrado suas mensagens altruístas e benevolentes, um detalhezinho do
seu caráter chama a atenção: nunca, mas nunca mesmo, tente mexer com os
sagrados “direitos adquiridos”, porque eles viram fera, fazem greve, passeata,
arruaça, quebra-quebra… São capazes de
paralisar o atendimento público de saúde, as escolas ou o instituto de
previdência do país por imensos períodos, a custa de prejuízos incalculáveis
para a população, sem que isso lhes cause qualquer comoção ou
constrangimento. Apesar de serem, em
tese, servidores públicos, colocam seus interesses pessoais acima de tudo.
Outro exemplar, não menos famoso, é aquele que Nelson
Rodrigues chamava de esquerda festiva.
Como os demais, adoram falar de justiça social e igualdade. São a
vanguarda do anticapitalismo, da anti globalização, da luta contra o demônio
neoliberal. Não raro, abocanham nacos
suculentos dos subsídios estatais, sob a égide do desenvolvimento artístico e
cultural. Apesar do socialismo de
fachada, quando os seus direitos é que estão em jogo, tornam-se enfáticos
defensores do direito de propriedade.
Seus contratos são elaborados por advogados do mais alto gabarito e
devem ser cumpridos à risca, sob pena de processos indenizatórios
milionários. No entanto, quando o
assunto é a propriedade alheia, não pensam duas vezes antes de mandar os
direitos constitucionais às favas. No
interior de suas mansões, vivem permanentemente cercados e protegidos por
seguranças armados até os dentes, mas não vêem qualquer problema em dar apoio
às invasões de terras e outras propriedades privadas pelo MST e congêneres.
Não dá para esquecer e deixar de fora os ,
grandes empresários que, em nome da manutenção dos empregos e do
desenvolvimento nacional, vivem sugando a sociedade, através de isenção de
impostos, subsídios, protecionismo e mais um sem número de favores
governamentais. Sabem perfeitamente que
“não existe almoço grátis”, mas, quem se importa com isso quando estamos diante
de benefícios concentrados e custos difusos?
É claro que há outros espécimes escondidos por aí, mas não dá
para listá-los todos num pequeno artigo.
Para iniciantes, aqui vão algumas dicas que os ajudarão a perceber
quando estiverem diante de um: 1 – compare o seu (dele) modo de vida com o
discurso. Normalmente frequentam a mais
alta burguesia, mas não se consideram parte dela; 2 – verifique se existe algum
interesse pessoal escondido trás das suas bandeiras de luta; 3 – Preste
bastante atenção na sua relação com o sucesso alheio, pois eles adoram fazer
justiça social com o dinheiro dos outros.
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