A sova eleitoral que Donald Trump deu na esquerda norte-americana animou muitos conservadores. Não sem razão de todo. Talvez por excesso de euforia, alguns conservadores – por sorte, apenas uma pequena parte deles – resolveram sair dizendo que agora a luta é “contra o liberalismo”. Será que eles estão corretos ao pensar assim?
Na realidade, ainda existe muita luta pela frente contra o
esquerdismo e, no Brasil, contra o ultraesquerdismo. Não há erro maior na
guerra política do que menosprezar um adversário. Aqueles que hoje ainda
conseguem o maior “naco” de poder de arena com doutrinação escolar estão na
extrema-esquerda, e não entre os centristas, esquerdistas moderados e
“liberais”. Claramente, a definição do “novo inimigo” parece um tanto
desfocada, no caso destes mais empolgados.
Essa pequena parcela, que está longe de representar o
conservadorismo – grupo político intelectualmente sólido e respeitável – como
um todo, ainda parece um cachorro que correu atrás do carro e, após ver o
automóvel parar, não sabe o que fazer com ele.
Vamos tratar deste grupo específico de conservadores, e não
“do conservadorismo”, até para não incorrer no mesmo erro de quem estamos
criticando.
Ignorando a complexidade por trás de tanta história e
literatura liberal, alguns podem achar que encontraram “o inimigo” ideal,
quando na verdade nada poderia ser mais falso, uma vez que as duas principais
vertentes do liberalismo são em vários aspectos opostas uma à outra.
O melhor livro a tratar deste assunto é Two Faces of
Liberalism, de John Gray, que explicou em muitos detalhes como, desde sua
origem, os movimentos liberais entraram em conflito dialético ao falar de duas
visões sobre liberdade. Em uma visão (que poderíamos definir como liberalismo
clássico), havia a busca por lutar pela coexistência pacífica de diferentes
modos de vida, mas sem violentar qualquer característica cultural de quem quer
que seja. Em uma outra visão (mais próxima do que se convencionou chamar de
neoliberalismo), havia a busca da criação de uma civilização universal baseada
no projeto iluminista. (E observe que o termo “neoliberalismo” não será
utilizado aqui da forma pejorativa usada pela extrema-esquerda, mas sim como
uma definição para o projeto iluminista)
Não é preciso cavar muito fundo para saber que deste
“neoliberalismo” surgiram coisas como globalismo, multiculturalismo,
politicamente correto e o uso do estado como máquina de opressão dos
discordantes. Tudo era consequência da administração de um “projeto universal”
que “sabia” como todos deveriam agir.
Mas o liberalismo tradicional não prega nada disso. Ao
contrário: é focado na busca de liberdades individuais, da livre expressão, de
um estado pró-povo e a luta contra a tirania. Quer dizer: em vários aspectos, é praticamente uma
oposição ao neoliberalismo.
Antes que alguém tente visualizar nessa comparação uma busca
por exoneração de responsabilidade, lembro que o mesmo fenômeno aconteceu com o
surgimento do neoconservadorismo como “derivação” do conservadorismo. No fundo,
conservadores e neoconservadores eram praticamente oponentes na maioria das
questões. A mesma razão que um conservador tem para fugir do neoconservadorismo,
um liberal tem para fugir do neoliberalismo.
Para um liberal clássico, não há problema algum no modo de
vida religioso da maior parte da população. Na verdade, é positivo que as
pessoas consigam praticar sua religião sem serem oprimidas, principalmente se é
a religião que dá a base cultural de uma nação. Já para um adepto do projeto
iluminista, o que importa é converter todos a uma religião universal. Para um
liberal clássico, não há incômodo algum no fato de alguém optar pelo modelo
tradicional de família. Para os adeptos do politicamente correto (fruto de
interesses do neoliberalismo e do marxismo cultural), a liberdade de
consciência não é um valor a ser respeitado.
Chegamos a um ponto em que as regras já estão dadas: o
liberalismo segue como aliado dos principais movimentos de direita (incluindo
movimentos conservadores), enquanto o neoliberalismo é aliado dos principais
movimentos de esquerda (seja a esquerda norte-americana como também a
extrema-esquerda por aqui). Não é preciso queimar muito a mufa para perceber
que quando George Soros se posiciona a favor das “ideias liberais”, de que tipo
de liberalismo ele está falando, certo?
Claro está que os neoliberais e os esquerdistas saíram
perdendo feio com a eleição de Trump. Liberais clássicos, como este que vos
escreve, só podem dizer: obrigado, Donald Trump, você nos fez um ótimo serviço.
Aliás, o BREXIT já havia sido outra maravilha para os liberais, e uma tragédia
para os neoliberais e esquerdistas. Em retribuição, podem contar com nossa
ajuda para mandar, entre outras coisas, o politicamente correto e o
multiculturalismo para a vala.
A maioria silenciosa vence a minoria de estúpidos
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