domingo, 11 de outubro de 2015

Onde foi que este país se perdeu? Quando abandonou o que dava certo.

A fundação da Associação Brasileira de Educação, em 1924, com a função de promover debates em torno da questão educacional; a influência da Escola Nova e seus defensores, movimento que se empenhou em dar novos rumos à educação, questionando o tradicionalismo pedagógico, e os embates da Igreja no seu confronto com o estabelecimento de novos modelos para a educação tornam evidente a diversidade de interesses que abrangia a educação escolarizada.
A criação do Ministério dos Negócios da Educação e Saúde Pública em 1930; a Constituição de 1934 estabelecendo a necessidade de um Plano Nacional de Educação, como também a gratuidade e obrigatoriedade do ensino elementar, e as Reformas Educacionais nos anos de 1930 e 40 demonstram que, nessas décadas, houve mudanças formais e substanciais na educação escolar do país.
A década de 1930 é reconhecida como o marco referencial da modernidade na história do Brasil, modernidade entendida como o processo de industrialização e urbanização, contemplada por inúmeros estudos que destacam esse período  pelas mudanças que inaugurou e os movimentos políticos que protagonizou: a Revolução de outubro de 1930, a Revolução Constitucionalista de 1932 e o Estado Novo, em 1937. 
A educação escolar foi considerada um instrumento fundamental de inserção social, tanto por educadores, quanto para uma ampla parcela da população que almejava uma colocação nesse processo. Às aspirações republicanas sobre a educação como propulsora do progresso, soma-se a sua função  de instrumento para a reconstrução nacional e a promoção social.
Acompanham esse quadro, as discussões em torno dos modelos educacionais. Do ponto de vista do ideário, o liberalismo se consubstanciou na Primeira República no país e se fez presente nas políticas educacionais, tomando lugar, paulatinamente, da ideologia educacional católica.
O discurso pedagógico liberal se expressou na escola nova, movimento de renovação escolar que se desenvolveu em vários países e chegou ao Brasil na década de 1920, fruto das mudanças inerentes ao processo de desenvolvimento capitalista, com seus novos valores, necessitando, segundo seus defensores,  de uma renovação da escola.

Quanto aos métodos de ensino, a pedagogia tradicional predominou até o fim do século XIX, enfatizando a atuação do professor.  Como ensinar é uma das diretrizes dessa concepção pedagógica. A pedagogia nova toma corpo a partir das primeiras décadas do século XX, mudando o foco e centralizando o processo de aprendizado no aluno. Como aprender é o seu eixo principal, fundamentando-se nos aspectos psicológicos do processo de aquisição de conhecimentos.

Os anos de 1930 foram férteis em relação à nova educação. As propostas sobre educação do Manifesto dos Pioneiros, publicado em 1932, foram defendidas por educadores que ocuparam cargos na administração pública e que implementaram diretrizes educacionais, respaldados por essa visão de educação.
Contrastando com a educação tradicional, as novas tendências pedagógicas visavam proporcionar espaços mais descontraídos, opondo-se como investigação livre, à educação ensinada. Os novos métodos de ensino visavam à auto-educação e a aprendizagem surgia de um processo ativo.
Sobre a Escola Ativa, Lourenço Filho, um de seus precursores no país, afirma:

[...] aprende-se observando, pesquisando, perguntando, trabalhando, construíndo, pensando e resolvendo situações problemáticas apresentadas, quer em relação a um ambiente de coisas, de objetos e ações práticas, quer em situações de sentido social e moral, reais ou simbólicos.


Semana de Arte Moderna de 1922 

A ruptura com o academicismo nas artes plásticas e a substituição do hendecassílabo pelo verso livre foram algumas das bandeiras da Semana de Arte Moderna, evento cultural realizado em São Paulo e que propiciou a renovação cultural do modernismo brasileiro.
‘Foi um grito de guerra’, disse à Agência Efe o professor e decorador assistente do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Denis Molino, para ilustrar o significado que teve a Semana como revolução na cultura brasileira
A Semana de Arte Moderna foi um acontecimento realizado nas noites dos dias 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922 no magnífico Teatro Municipal de São Paulo, transformado no palco de conferências, recitais de música e poemas, na qual participou um grupo de artistas que se rebelavam contra a forma fixa e os cânones estéticos do século XIX, imperantes na arte do Brasil.
Ficam para a lembrança daquele vibrante acontecimento os assobios e vaias com as quais foram recebidas algumas das conferências e a ousadia do compositor Heitor Villa-Lobos, que surgiu em cena usando chinelos de dedo.
Denis explicou que a Semana foi um evento ‘paulista’ porque naquele momento a cidade ‘tinha essa abertura e era muito mais espontânea’ que o Rio de Janeiro, naquela época capital brasileira e onde ficava a Academia de Belas Artes, guardiã da técnica, do apego à norma, da obra bem definida e de contornos acabados.
‘A ideia de transformação radical é mais propícia a São Paulo’, disse Denis, acrescentando que dali foi ganhando espaço no Brasil.
A Semana é considerada como a semente da qual brotou o Modernismo brasileiro, embora seus principais expoentes, Mário e Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Menotti del Picchia, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcantti e Manuel Bandeira, já tinham escrito vários capítulos de ruptura na década anterior, que serviriam para narrar a novela da mudança cultural.
Inspirados em um espírito iconoclasta, os modernistas brasileiros bebem das vanguardas europeias como o Dadaísmo, o Futurismo e o Cubismo, mas com uma releitura tropical, em busca de um relato propriamente brasileiro e da construção de identidade.
Enquanto na Europa já se tinha produzido um processo de ‘destruição da ordem’, o Brasil tinha essa necessidade de afundar na originalidade, na liberdade artística, na ruptura dos cânones.
Esse movimento, que se manifestou em diferentes disciplinas artísticas, como pintura e música, teve especial impacto na literatura, onde aconteceu a separação da escola poética do Parnasianismo, baseada na estrutura métrica e na beleza formal, que gozava de ampla influência entre os poetas brasileiros.
Nos primeiros compassos do Modernismo brasileiro – que se articularam em torno do Manifesto Antropófago, escrito por Oswald de Andrade em 1928 no primeiro número da ‘Revista da Antropofagia’ – a proposta é fagocitar (digerir) a cultura estrangeira, mas revesti-la de elementos nacionais.
‘As pinturas de Tarsila, autora do famoso ‘Abaporu’, por exemplo, remetem ao Cubismo, mas com um discurso autóctone, com cores tropicais e a temática de fundo do interior rural brasileiro’, segundo Denis.
Para o especialista, a Semana de Arte Moderna e o Modernismo tiveram seu impacto até os anos 60, mas a partir dos 70 se pulveriza a mensagem desse período de euforia, que, nas palavras de Mário de Andrade, constituiu ‘a maior orgia intelectual que a história artística registrou’. EFE

                                      Um país que poderia ter sido um farol para o mundo e que se perdeu

                                                                                                    
                                                                                                           

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